sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Umbanda, samba de roda, capoeira e feijoada – uma semana dentro da cultura afro-brasileira


Um país miscigenado, marcado pela diversidade de rostos, de credos e de artes. A cultura brasileira está longe de uma definição, é uma manifestação de povos e povos, de lugares que se encontram num mesmo cenário. Toda essa mistura acarretou na imagem de um povo alegre, com seus sons e crenças próprios. Temos a imagem do samba de roda, do gingado da capoeira, dos terreiros de Umbanda e Candomblé, da feijoada, do acarajé e do vatapá, todas essas quando não símbolos maiores da cultura nacional, ganham forma e vida em solos brasileiros e, assim, perfazem o sincretismo artístico e religioso de nosso país. Foram as manifestações dessa cultura, uma fusão de europeus e africanos, que busquei e vivi durante uma semana.
Em um terreiro de Umbanda
Entrar num terreiro de Umbanda trouxe-me o tão esperado contato com o novo; as cantigas e as danças que juntos evocam orixás ou espíritos implicavam numa recôndita paz. A religião que nesse 15 de novembro celebra seu centenário perfaz o sincretismo religioso e cultural brasileiro. No ritual, assistido numa calma sexta-feira, a imagem de Jesus – Oxalá no Umbanda - tomava a parte mais elevada do altar, abaixo seguiam-se as figuras de Iemanjá e Ogum, representações que se assemelham a santos da religião Católica, como este que em São Paulo também é chamado de Santo Antonio e aquela Nossa Senhora dos Navegantes. Ainda se vêem as imagens de Cosme e Damião (ibejis: gêmeos amigos das crianças), ambos festejados pelas duas religiões.
Os atabaques, neste instante, traziam ritmos que embalavam histórias de homens e mulheres, os escravos, pretos-velhos, caboclos, ciganos, dentre outros. Nesse dia os entes evocados eram os pretos-velhos, escravos africanos que morreram de velhice, dotados de uma poderosa sabedoria. Sentado, tentando o melhor ângulo para uma foto, mal vi uma das mulheres a se aproximar, perguntando-me se queria tomar o passe. Prostrei-me diante de uma senhora, absorvida em suas meditações tragava calmamente seu fumo de corda. Tomei o passe, levantei-me e se seguiram novas cantigas, acabando a celebração.
"Foi há cem anos, em Minas Gerais, com Zélio Fernandino de Morais que isso aqui teve início", conta-me, logo após o rito, Pai Roberto D’Ogum, presidente da casa na qual tive meu primeiro contato com a religião que, século passado, influenciou alguns de meus mestres, como Gilberto Freire e Vinícius de Moraes. A dúvida que restava era quanto às representações no altar. E é o historiador Valderez Antonio da Silva quem me explica: para ele, há duas versões para essa junção entre santos católicos e divindades oriundas da África. "Talvez uma saída que os africanos arranjaram para terem seus deuses aceitos; outra hipótese é oposta, pode ser uma forma que a Igreja encontrou para explicar a crença cristã, comparando seus santos às entidades das religiões africanas", conta.
Apesar das diferenças entre Umbanda e Candomblé, é nesta que aquela encontra sua raiz, sua origem africana. Foi no terreiro de Candomblé de Mãe Menininha, na Bahia, que Jorge Amado, Caetano Veloso, Dorival Caymmi e Gilberto Gil conheceram a religião originária da África. Hoje, brancos e negros, pessoas de todas as etnias e classes sociais têm a Umbanda e o Candomblé como sua principal religião. "Aí está a grande vitória do povo africano, após anos de sofrimento, o branco ganha seu gingado, rende-se à sua cultura", diz, também rendido, Valderez Antonio.
O samba, a capoeira e a feijoada
"O gingado", as palavras do historiador remetiam a outros recantos, às manifestações que também compunham o rol de eventos os quais pretendia vivenciar. Era o samba de roda, era a arte da capoeira, ambos encerrados pela mistura que nos trazia a feijoada. Pude, então, ver o pandeiro, o atabaque, o berimbau, o requebrado das morenas. "‘Quem não gosta de samba, bom sujeito não é’ dizia Dorival Caymmi, como não concordar, disse ao rapaz mais próximo. O samba ali demonstrava a união, a alegria presente em toda a cultura afro-brasileira: a roda de samba, de capoeira ou até mesmo a roda no terreiro de Umbanda".
Das religiões, dos ritmos que pulsam no coração brasileiro, das cores que alegram e nos distinguem dos demais, pouca coisa é nacional sem ser afro-brasileira. O aroma da feijoada, o forte sabor da carne e do feijão preto, atenuadas pelo doce sabor da caipirinha, acompanhavam o dialogar, o escrever, e o conhecer sobre essa cultura. Num destes momentos, Valderez Antonio, o historiador que me acompanha nesta semana de contato com a maior das culturas nacionais, cita-me Caetano Veloso, outro apaixonado por tais manifestações. É com ela, parte da canção "Milagres do povo", que encerro:
"É no xaréu que brilha a prata luz do céu
E o povo negro entendeu que o grande vencedor
Se ergue além da dor
Tudo chegou sobrevivente num navio
Quem descobriu o Brasil?
Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente"


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O país onde a esquerda é democrata

Obama e McCain: a nova e a velha direita

Os Estados Unidos não é apenas a nação mais rica, mais evoluída em todos os setores sociais, com algumas das instituições mais sólidas do planeta. O país é o símbolo de que o capitalismo é o melhor sistema econômico já criado, e que a democracia é a organização social mais humana. Todos estes fatores são facilmente exemplificados em suas eleições presidenciais. Ali, temos o partido conservador, os republicanos, representantes da moral cristã, de um nacionalismo quase sempre utópico. De outro lado, temos os democratas, estes que trabalham em nome do progresso, de uma intervenção maior na economia, por um Estado mais forte em nome da sociedade, que quebra as barreiras do cristianismo, do que é firme e duradouro por se parecer o mais ameno ao bolso da velha “aristocracia”.

Enquanto os republicanos representam Deus e a moral cristã, os democratas representam os homens e suas ambições, a quebra de tabus. O aborto, a intervenção do Estado na economia, medidas de distribuição de renda, são alguns dos temas que opõem ambos os partidos. Os republicanos, segundo a denominação mais comum, são os chamados “direitistas”; e os democratas, os “esquerdistas”. Entretanto, apesar do Partido Republicano representar ideais mortos e peculiares à direita de séculos atrás, o Partido Democrata está longe de ser o que se entende por esquerda na América Latina.

A eleição de Obama para presidente alegrou Fidel, Chaves e cia, entristeceu a velha direita. Olavo de Carvalho, durante toda a eleição, atacou o agora presidente americano, para ele o democrata representa a esquerda mais cínica e demagoga. Segundo Olavo, Obama tramou de tudo para chegar à presidência, o filósofo brasileiro acreditava numa conspiração para levar o democrata ao poder. Pura imaginação fértil. Apesar de leitor assíduo de Olavo, torna-se difícil acreditar em elucubrações como estas.

Barack Obama e o Partido Democrata estão longe de representar a esquerda tal como conheço. Todos me viam nesta eleição como um opositor do democrata, nunca fui. Acredito apenas que Hillary Clinton seria melhor, pois as palavras de Obama soam, por vezes, a mim, como pura demagogia. Os Estados Unidos, até mesmo na ideologia presente em seus principais partidos políticos, consegue ser superior ao resto do mundo. No país onde a direita é velha e ingênua sem ser prejudicial, a esquerda representa a nova direita. Os democratas, com Bill e Hillary Clinton, Obama e Al Gore representam os homens e não ideais utópicos, trabalham o bom senso e não a barata ideologia esquerda.