quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Jornalismo e outras reflexões


Em meus poucos mas relevantes anos como estudante de jornalismo muitas coisas perpassaram por minha mente sem que eu ao menos desejasse. Em verdade, queria apenas viver tranquilamente, sem pensar em sandices que nada cabem a mim. O fato é que, dentre as elucubrações por vezes doentias de meus professores, um ou outro aluno vomitava palavras absurdas que levavam-me, quase sempre, a um desespero suicida. Por vezes, devido ao alto grau de ignorância, minha vontade de suicídio transformava-se em ânsia por extermínio em massa. Sei o quanto parecem doentias essas manifestações, mas não sofro por isso: para que não se caia em depressão, loucos devem aceitar suas patologias.

Tudo que sei é que, da mudança de universidade por que passei, muita coisa pude aprender. As percepções acerca das coisas mundanas entre meus colegas de uma e de outra faculdade eram quase sempre distintas. Creio que, salvo engano por ter convivido muito menos intensamente com uma das turmas, muitos colegas assemelhavam, ou o eram, crianças recém-saídas do colegial. A maconha, que estava longe de ser um tabu em uma das universidades, era elemento desconhecido para a outra. Não pretendo, por assim dizer, que o simples fato de fumar maconha engrandece os instintos perceptivos, mas, ao se fazer tal analogia, ela não parece tão descabida. O triste é que alguns apesar de, primeiramente, demonstrarem certa ignorância acerca das distorções do mundo, não sucumbiam às experimentações e destoavam de tantos outros que eram ignorantes por não ousarem experimentar.

A experimentação, em si, é capaz de grandes feitos. Não apoio o uso de maconha ou drogas de qualquer espécie, digo sobre as experiências acerca de tudo que envolve os desejos e as curiosidades dos homens. Posso dizer que já experimentei de quase tudo, não tenho receio do novo, do desconhecido. Jornalistas devem, para se falar com sapiência sobre o objeto tratado, vivenciar o mesmo.

Dito sobre as experimentações, outro ponto relevante e que deveria ser intrínseco ao desejo besta de ser jornalista é a insatisfação. Nada mais óbvio: jornalismo é uma máquina de mudança que, nas mãos de um banana e, claro, de um capitalista, pode ganhar contornos assombrosos. Nestes anos - poucos para uma vida inteira, é verdade - todos os meus amigos criativos e dotados de uma grandiosa bagagem cultural são verdadeiros insatisfeitos, eternos angustiados; depressivos com os desígnios da raça humana. A simples monotonia do passar dos dias é fator acabrunhante, terrível. O tédio invadi-lhes a cabeça, os braços, as pernas, toma conta de todo seu ser.

Diante de tais sensações, a insatisfação torna-se generalizada. A política, a cultura, enfim, tudo que move a sociedade carece de ajustes, para um andar mais belo e correto. Por assim pensar, vemos que cobrir desfiles de modas não é nada relevante. Arrogância a minha, não? No entanto, isso não serve para mim e nem a esses chatos amigos.

Pensar o jornalismo é refletir sobre as mesmices cotidianas: o transmitir de notícias sem valor social algum. As concepções de importância de tantos colegas de curso, do primeiro ao quarto ano, são vagas. É o noticiar de uma morte no subúrbio, por motivos pessoais e até mesmo infantis; é o interessar-se pela rotina de um vendedor de frutas, pela vida intima de uma personalidade, etc. É uma retransmissão dos afazeres diários, dos acontecimentos comuns a qualquer cidade. No entanto, os problemas sociais que carecem de lugar na mídia são por ela rejeitados. Os jornalistas não sabem ou não querem suscitar discussões nas sociedades. Falta, como já expus, insatisfação.

Nesses anos como estudante de jornalismo, minha turma e eu muito fomos instigados a lermos jornais, assistirmos noticiários, etc. A busca por informação, segundo nossos professores, deveria fazer parte de nossa vida. Porém, as boçalidades noticiadas nunca me chamaram atenção. As discussões relevantes que deveriam cobrir ao menos 50% de um jornal não ganham nem 10%.

Na faculdade, no mercado de trabalho, em todos os lugares falta insatisfação. Muito se fala de objetividade, de imparcialidade, etc., mas estas são discussões que fazem, a meu ver, parte de um terceiro ou quarto plano sobre como e o que o jornalismo deve ser. Somos, enquanto comunicadores, construtores da história, desmistificadores. Questões relevantes devem ultrapassar as barreiras da academia e cabe a nós que isso seja feito.

Há numa sociedade inúmeros problemas que devem ser discutidos. As drogas, o racismo, a miséria, a eutanásia, o aborto, as células-tronco, em suma, todas as desigualdades sociais e tabus devem ser quebrados para que se chegue a uma sociedade equilibrada. Assim, não basta ter curiosidade e saber escrever. É preciso interpretar, ver a sociedade com olhos inquietos. É a escolha da pauta que diferencia o bom do mau jornalista. E, certamente, para os que não veem disparidades, nem tampouco se abrem às experimentações, o mau jornalismo é destino garantido.