quarta-feira, 15 de abril de 2009

O FIM DO COMUNISMO



Apesar do desejo da literalidade do título acima, não trato aqui do fim real do comunismo, tal como a queda de um regime. O fim do comunismo – sonho notório – dá-se, impreterivelmente, com a derrubada constante das ideologias passadas. O andar cotidiano do capitalismo, os avanços comunicacionais e a industrialização de tudo o que existe tende, incondicionalmente, a corroborar com o fim das bandeiras vermelhas. Não que seja o fim de Karl Marx e seguidores, pois isso não contribuiria com a história e com o bom senso das ações que a humanidade deve seguir, mas sim que é o esquecimento de sistemas sociais utópicos. É o fim dos sonhos inalcançáveis que não levam em conta os anseios humanos, e aqui uso de Nietzsche, para quem a moral imposta pela sociedade – que tende a ser ainda mais forte em um sistema como o comunismo – é uma moral para os fracos, que coíbe o homem de agir de acordo com seus desejos.

Mas o que nos leva a refletir sobre o ocaso e fim do sistema socialista é a abertura de velhos e fortes casulos, de países comunistas que se fecharam para o mundo do consumo. Uma década antes do fim do século XX pudemos ver o fim do que seria o maior e mais forte reduto comunista, a União Soviética. Hoje, vimos uma China cada vez mais aberta aos frutos do capitalismo. E não deixemos de ressaltar que, uma vez aberta ao mundo da comunicação sem fronteiras, nunca mais a censura poderá ser imposta como antes. Assim, mesmo que ainda haja muito de comunismo – num termo inválido, pois os chineses nunca viram o comunismo de Karl Marx – muito já foi feito para que o país retrocedesse a esse sistema.

Não obstante o quase fim do comunismo chinês, as quase duas décadas do fim da União Soviética, o comunismo ainda vive em pequenas e desimportantes ilhas, como é o caso da Coréia do Norte e de Cuba. No entanto, apesar daquele país ainda estar mantido num invólucro de comunismo fajuto e tirano, este tem grandes chances de abrir-se ao mundo. Cuba certamente, com o quase fim de Fidel e seu irmão, levará vantagem nessa abertura devido à sua boa localização, e suas riquezas culturais e naturais. Ocaso, quase fim do comunismo na ilha de Fidel.

Para acalentar ainda mais as contradições desse mundo ingênuo envolto em retóricas, o comunismo, nos dias atuais, surge como produto artístico e cultural. Em suma, o comunismo atrai turistas, ou seja, hoje é um produto comercial. Assim, podemos gozar de uma visitinha ao país caribenho, marcado pelo atraso que anda junto ao sistema socialista, ao país oriental com sua histórica e cruel revolução cultural ou até mesmo ao país de Lênin, Trotsky e Stálin. O comunismo, há anos, foi engolido pela máquina capitalista, que assente aos desejos humanos.

Falta pouco para vermos o fim verdadeiro do sistema marxista, restam apenas anomalias criadas através da triste patologia humana: a ideologia. Veremos o fim de idealismos e idealistas incorrigíveis, sonhos e sonhadores lunáticos. Mas veremos, também, o caminhar ensandecido da humanidade, fugindo do ridículo e recaindo na banalidade; eliminando a fantasia e entrando de vez numa realidade mórbida e infeliz.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mensagens eletrônicas - aflições cibernéticas

Somos diariamente acossados por um turbilhão de mensagens cibernéticas de amor, de nostalgia, de paz, etc. Ao som de antigas canções, populares ou eruditas, as mensagens quase sempre carregam um tom sentimentalista. Somos incitados a amar nossos pais, a dar mais tempo a nossos filhos, a não sermos tão metódicos, a enxergar os detalhes do cotidiano, a rezar e a sermos solidários. Há, ainda, as mensagens bem-humoradas, as quais nos tiram da alienação a que somos imersos no trabalho. As correntes de mensagens eletrônicas, de qualquer gênero, acabam fazendo parte do cotidiano de quem navega na internet, seja a trabalho ou lazer. Recebemos e-mails de amigos que, por sua vez, recebem de outros amigos, que recebem de outros e outros, quase que infinitamente. Enfim, as mensagens religiosas, educativas, humorísticas e de apelo social chegam a internautas de várias partes do país e do mundo, criando um vasto ambiente comunicacional.

As informações transmitidas, no entanto, são fadadas ao senso-comum, sem nenhum cunho ou embasamento científico. Assim, tanto temos acesso aos pensamentos de Platão e de Nietzsche – que, obviamente, ficam descontextualizados -, quanto aos pedantismos da auto-ajuda de Lair Ribeiro e Augusto Cury. Trata-se de mensagens sem autores, ou com atribuições infieis aos mesmos. Lemos textos “assinados” por Arnaldo Jabor (o autor preferido desses internautas), por filósofos e religiosos. São orações ritmadas por Mozart, Vivaldi ou Strauss, ou são frases feitas, lugares-comuns, ao som de U2 ou Bon Jovi. Apelos nostálgicos evocando o belo passado ou então os momentos perdidos em decorrência da correria do dia-a-dia. Mas não são apenas mensagens e canções, as imagens também contribuem ainda mais na transmissão dos sentimentos.

Vêmos crianças pegando comida do chão, rostos que nos transmitem a dor da fome, da miséria. Somos invadidos por um desespero avassalador ante as histórias de massacres, tantas iniquidades cometidas pelos homens. As imagens agem com maior crueldade por retratarem quase que fielmente o momento de dor. Não bastando som e mensagem, a força da foto impede a ação da indiferença. Não temos para onde fugir, somos acometidos assim pelo sentimento desejado pelo emissor. Náusea e lágrima, sorriso ou reflexão.

Pouco podemos mensurar sobre as consequências de mensagens assim no cotidiano dos que tem acesso à internet. Tanto a transmissão quanto a recepção são momentos individuais e íntimos. Isolados, lemos, vemos e ouvimos conteúdos que nos absorvem, levando-nos a um estado jamais atingido com a televisão e o rádio – meios cujas informações sobrepõem-se às outras, impedindo o momento de reflexão – e os meios impressos, devido à pouca profundidade e a não presença do som. As correntes de e-mail, por fim, como retribuição ao sentimento transmitido, cobram a propagação de sua existência. Assim, também devemos enviar a nossos amigos, que também enviarão aos seus contatos, até que o sentimento ultrapasse as fronteiras dos países. Enfim, o amor, o ódio, o pensamento e a religiosidade atingem milhões, necessitando apenas de Power Point e de um endereço de e-mail.