Somos diariamente acossados por um turbilhão de mensagens cibernéticas de amor, de nostalgia, de paz, etc. Ao som de antigas canções, populares ou eruditas, as mensagens quase sempre carregam um tom sentimentalista. Somos incitados a amar nossos pais, a dar mais tempo a nossos filhos, a não sermos tão metódicos, a enxergar os detalhes do cotidiano, a rezar e a sermos solidários. Há, ainda, as mensagens bem-humoradas, as quais nos tiram da alienação a que somos imersos no trabalho. As correntes de mensagens eletrônicas, de qualquer gênero, acabam fazendo parte do cotidiano de quem navega na internet, seja a trabalho ou lazer. Recebemos e-mails de amigos que, por sua vez, recebem de outros amigos, que recebem de outros e outros, quase que infinitamente. Enfim, as mensagens religiosas, educativas, humorísticas e de apelo social chegam a internautas de várias partes do país e do mundo, criando um vasto ambiente comunicacional.
As informações transmitidas, no entanto, são fadadas ao senso-comum, sem nenhum cunho ou embasamento científico. Assim, tanto temos acesso aos pensamentos de Platão e de Nietzsche – que, obviamente, ficam descontextualizados -, quanto aos pedantismos da auto-ajuda de Lair Ribeiro e Augusto Cury. Trata-se de mensagens sem autores, ou com atribuições infieis aos mesmos. Lemos textos “assinados” por Arnaldo Jabor (o autor preferido desses internautas), por filósofos e religiosos. São orações ritmadas por Mozart, Vivaldi ou Strauss, ou são frases feitas, lugares-comuns, ao som de U2 ou Bon Jovi. Apelos nostálgicos evocando o belo passado ou então os momentos perdidos em decorrência da correria do dia-a-dia. Mas não são apenas mensagens e canções, as imagens também contribuem ainda mais na transmissão dos sentimentos.
Vêmos crianças pegando comida do chão, rostos que nos transmitem a dor da fome, da miséria. Somos invadidos por um desespero avassalador ante as histórias de massacres, tantas iniquidades cometidas pelos homens. As imagens agem com maior crueldade por retratarem quase que fielmente o momento de dor. Não bastando som e mensagem, a força da foto impede a ação da indiferença. Não temos para onde fugir, somos acometidos assim pelo sentimento desejado pelo emissor. Náusea e lágrima, sorriso ou reflexão.
Pouco podemos mensurar sobre as consequências de mensagens assim no cotidiano dos que tem acesso à internet. Tanto a transmissão quanto a recepção são momentos individuais e íntimos. Isolados, lemos, vemos e ouvimos conteúdos que nos absorvem, levando-nos a um estado jamais atingido com a televisão e o rádio – meios cujas informações sobrepõem-se às outras, impedindo o momento de reflexão – e os meios impressos, devido à pouca profundidade e a não presença do som. As correntes de e-mail, por fim, como retribuição ao sentimento transmitido, cobram a propagação de sua existência. Assim, também devemos enviar a nossos amigos, que também enviarão aos seus contatos, até que o sentimento ultrapasse as fronteiras dos países. Enfim, o amor, o ódio, o pensamento e a religiosidade atingem milhões, necessitando apenas de Power Point e de um endereço de e-mail.
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