quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre o diploma




Mantive-me calado até aqui em relação à dicotomia atual entre a obrigatoriedade ou não do diploma de jornalismo. Como uma criança que tem de se decidir entre o pai e a mãe, fui jogado de um lado ao outro por alguns jornalistas e intelectuais que considero importantes. Não obstante, ainda não pude e nem poderei optar por um dos lados, pois tal discussão constitui-se de princípios que se chocam e ambas as partes tem razão.

Como estudante de jornalismo, obviamente, já deveria há muito ter entrado na briga pela obrigatoriedade do canudo, mas não pude tomar os argumentos opostos como refutáveis ou indignos de serem levados em conta. Trata-se, em suma, de uma questão em que os dois lados defendem elementos básicos para a constituição do que chamamos jornalismo. Primeiro, que tal profissão não necessitou de um curso de formação para nascer. Segundo que, como podemos ver nos dias atuais, é plausível que necessite dela para sobreviver. Simplesmente porque o jornalista é quem narra a história humana, além de ser o jornalismo a principal forma de questionar as mazelas sociais e as injustiças, tornando-se uma instituição tão importante quanto os três poderes, uma vez que deveria trazer à luz as disparidades de nosso mundo.

No entanto, tal exercício não requer formação específica para existir, basta que nasçam homens preocupados com os dilemas sociais e que tenham olhos para ver o que está explícito ou implícito nas ações humanas. Agora questiono, é necessária uma faculdade para isso? Não, não é. Todavia, quatro anos sentado diante de mestres e doutores contribui e muito para a maturação dessa criticidade inerente à prática jornalística. Não diria que simplesmente contribui, mas que é evidentemente obrigatório o convívio da universidade. O dialogar e o refletir nunca terão lugar numa redação de jornal, como julgam grande parte dos jornalistas, num ato de absoluta ignorância e nostalgia, pois se trata de local dedicado à prática, não à reflexão. Um jovem que queira aprender jornalismo e não deseje entrar para a faculdade, numa redação irá aprender os macetes do ofício, compreenderá a lógica da pauta, dos lides, das reportagens, etc., mas não saberá qual seu papel na formação de seus leitores.

A prática jornalística é, sobretudo, um exercício de socialização. Na faculdade não aprendemos apenas a produzir o texto e veiculá-lo, pois a ação começa muito antes. Tem início em nossa própria visão de mundo. É na universidade que temos a formação necessária para observarmos com maturidade uma sociedade carente de acertos. Somos submetidos a questões sociológicas, antropológicas e filosóficas, e o exercício jornalístico advém da assimilação destes saberes. Fazer jornalismo não é simplesmente ver e escrever: é interpretar e formar. O jornalista, mais que qualquer outro profissional, é responsável pela construção da realidade de seus leitores. Quem o lê se adapta aos acontecimentos transcritos, assimila o conhecimento. O jornalismo, independente de diploma, é responsável por toda a evolução sociocultural do homem.

Muito há que se discutir ainda, pois como afirmei, há princípios que se opõem nessa questão. Qualquer um pode estar provido de preceitos inerentes ao jornalismo, mas somente na faculdade tais excentricidades poderão ser fundamentadas. Em contrapartida, não é a sala de aula que irá formar o jornalista, pois este já vem dotado das características que descrevi anteriormente. Por tudo isso, abstenho-me de tomar um dos lados, negando a existência dos argumentos opostos.

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