sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Babel de culturas


A metáfora bíblica decerto fora a maior das profecias – ou, simplesmente, uma constatação precoce das diferenças entre os homens. A humanidade está dividida em valores culturais e idiomas distintos, os quais talvez nunca sejam compreendidos uns pelos outros. Impossibilitados do diálogo, cegos por construções culturais diversas e etnocentristas, envoltos numa Babel de culturas, nunca será possível às nações um acordo que os leve à paz e o bom convívio.


Isso é o que pudemos perceber dias atrás, durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), nas falas de líderes como Mahmoud Armadinejad, do Irã, Muammar Gaddaffi, ditador da Líbia, Hugo Chávez, da Venezuela, e companhia não menos assombrosa.


Há um misto de discursos vazios e envoltos em retórica, como os de Obama e Lula, e explanações revoltosas, como as do líder líbio. Sozinho no discurso de unidade entre as nações, o secretário-geral da ONU, Ban Kimoon, parece não compreender os desafios que tem de enfrentar. Kimoon pede a todos que tolerem suas diferenças em busca de solução para as mudanças climáticas, a pobreza e a gripe suína.


Mas eles não se entendem. Falam línguas diferentes, creem em deuses e sistemas díspares. Alguns veem na violência e na guerra seu único discurso. Deus talvez tenha errado em, além de dividir a humanidade em línguas, tê-la dividido também em culturas tão excêntricas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A ineficácia do discurso único



O que Marina Silva e Cristovam Buarque têm em comum? Em poucos segundos podemos enumerar uma série de semelhanças entre os dois. Ambos são ex-petistas, foram chefes de importantes ministérios do governo Lula, podem ser candidatos à Presidência da República em 2010 – apesar de Buarque esboçar pouca vontade desta vez – e, o principal, os senadores fazem uso de discursos únicos: ela, a defesa do meio ambiente; ele, da qualidade na educação.
Grande novidade para as eleições de 2010, Marina Silva ainda engatinha para ser candidata em 2010. Em entrevistas recentes, a senadora não hesitou em responder questões complexas recorrendo ao discurso da necessidade de “desenvolvimento sustentável”.

No entanto, a senadora promete ser a melhor saída aos insatisfeitos com a dupla Serra-Roussef. Boa porque a nova integrante do PV mantém coerência, bom-senso e está longe do radicalismo de Heloísa Helena. Apesar de ainda correr o risco de ser rotulada como candidata de discurso segmentado, como Buarque o foi com a educação, levantando apenas a bandeira de defesa do meio ambiente.

O discurso único é ineficaz numa campanha ao principal cargo político brasileiro. Com essas propostas, Marina e Cristovam podem ser importantes ministros, cada um ocupando a pasta que melhor domina, mas não podem ser bons candidatos à presidência. Nas eleições de 2010, Serra, Dilma e Ciro tem bem mais chances de chegarem ao poder, não por estarem em partidos maiores e terem melhor visibilidade política, mas por terem uma visão política mais completa e rebuscada.

Já é o momento de Marina cooptar aliados que deem a sua campanha um discurso maduro, que demonstre aos eleitores que a senadora está preparada para ocupar a Presidência da República. Um bom aliado seria o próprio Cristovam Buarque – caso o senador não se candidate - e seu partido, o PDT. Uma chapa composta pelos ex-ministros petistas, além de sofisticar a candidatura, seria uma alternativa duplamente atraente ao eleitorado.