
O labirinto da contemporaneidade é dotado apenas de entrada, ficando os homens a procura de uma saída, quando a mesma é a própria porta pela qual entraram. A arte abstrata é aceitação, não critica, tampouco censura. Em final de 2008, uma jovem entrou num andar desocupado do prédio da Bienal de São Paulo e, diante do vazio, expressou seus sentimentos da maneira mais apropriada a um jovem: pichando. As salas, que poderiam muito bem representar o vazio interior dos homens, foram invadidas pela abstração. O caso ganhou contornos escabrosos, tornando a história da pichação uma obra de arte: a garota fora presa, sendo solta tempos depois, após diversos protestos de artistas nacionais. A arte contemporânea revela o bizarro e é condescendente com a loucura e a banalidade de nossos tempos.
Sendo eu mesmo parte integrante dessa bucólica paisagem de assombros, expresso-me com feiúra. Pouco transmito dos sentimentos que me acometem ante as manifestações artísticas de agora. Entro, cotidianamente, nos labirintos de Jorge Luís Borges. Perco-me nos infindáveis pensamentos acerca do vazio humano e das variadas buscas por seu preenchimento fugaz. Assim, uma obra de arte que traga o sentimento em sua forma concreta, a qual assimile sentimento e entendimento, torna-se digna de apreciação.
“Big Man”, de Ron Mueck, revela fielmente a angústia do homem solitário. O parto, a velhice, o sexo, são retratados por esse artista, grande conhecedor das expressões humanas. A feiúra transmitida é palpável. Com concretude, o homem nos remonta à dor humana. Digo que pra mim isso é arte, não deturpação. Mesmo que recorramos à feiúra, que esta expresse a face da dor e do vazio, e não de uma singela parede com rabiscos.
* As obras são do escultor australiano Ron Mueck.
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