quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A adoração dos ingênuos

Algo notório vem ocorrendo no Brasil nos últimos tempos: a veneração exaustiva e quase unânime do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Intelectuais, artistas, políticos de oposição, etc., agora caem candidamente nos discursos e nas ações populistas de nosso presidente – ou “Nosso Guia”, como o chama carinhosamente o jornalista Elio Gaspari. O bordão “nunca antes na história deste país”, que simboliza a demagogia discursiva de Lula, não atinge mais apenas os cidadãos comuns, mas a todos. O anseio da vez agora é tentar definir a seguinte questão: quem é Lula? Eugênio Bucci já tentou, num artigo um tanto quanto limitado e que perpassa pelas ações negativas do presidente com uma superficialidade que alegrou soberbamente os assessores de imprensa do Planalto.

Devemos salientar que sempre foram assombrosas as opiniões acerca dos predicados de nosso presidente, as quais quase sempre versavam sobre a origem humilde do sindicalista, de seus discursos em nome da ética, que denegriam sem nenhum pesar a imagem de políticos malfazejos como Sarney, Collor, Barbalho, Calheiros e companhia não menos pérfida. O Lula para eles era o homem do povo e o qual, estando no poder, daria um novo rosto à política brasileira, conferindo finalmente a essa terra esquecida a alcunha de “Brasil, o país do presente”. Doces delírios? Não, seria tolo não reconhecer os avanços obtidos até aqui. No entanto, isso não confere ao presidente o título de salvador da pátria.

Eu poderia muito bem elucidar que, como maior mandatário de nosso país, eleito pelo povo, ele não fez mais que sua obrigação. Mas certamente receberia como resposta desses tantos correligionários do presidente uma débil e óbvia pergunta: e por que o FHC não fez? Elementar, meus caros, não se pode comparar um governo iniciado em momentos trágicos com um onde o começo se deu em momentos auspiciosos para todo o planeta, com países como China, Índia e Coréia do Sul em franco crescimento. E, afinal, o que se espera de um governo sucessor? Que este continue a organizar o que não foi organizado e a amadurecer o que fora iniciado. E ademais, Tolstói é Tolstói e Dostoiévski é Dostoiévski, não competindo a nós denegrir um autor em detrimento do outro. Algo lógico, não? Não, pelo menos para os ingênuos de que trato aqui.

Essa nova condição em que se encontra Lula é fruto do oba-oba atual no âmbito da economia e da política externa brasileira. Mas questiono, será que esses noticiados progressos atentam realmente para uma realidade que pode ser vista e não apenas sentida? A propaganda lulista que, sabemos bem, noticia alegremente o que ainda não foi feito - ou seja, o porvir – não incute em nossos esperançosos cidadãos – tomando os que antes se opunham ao presidente como exemplo - a sensação de que, por todas suas ações, “Lula é o cara”? Sim, a máquina hitlerista funcionava desse modo – mas não faço aqui uma analogia entre dois homens, como ele o fez há pouco com o PSDB – e o que vimos foi uma aderência cega aos discursos do tresloucado alemão. Em suma, o marketing do governo Lula insere em toda a população os sentimentos de estarem no lugar certo e na hora correta. E mais, que talvez estejamos chegando ao que os marxistas veem como “o fim da história”.

Todavia, é mais preciso chegar-se à imagem de Lula pelo próprio marxismo, basta usarmos para isso de sua dialética – método que Marx adaptou de Hegel - para encontrarmos o que há de negação no presidente. Afinal, em detrimento da ética, as alianças de Lula com os mesmos homens que ele criticava valem realmente a pena? Podemos refutar as denúncias – estas comprovadas – de caixa dois em sua campanha? A argumentação – que não vale no caso do Senador Azeredo, alvo de denúncia análoga – de que ele desconhecia o esquema do “mensalão”, mesmo quando os responsáveis pela tramoia eram seus homens de confiança? Eu sei, tudo isso já foi pisado das mais variadas formas, mas ainda sim creio que esses são fatos eternos e que serão relembrados por anos a fio como constituintes do governo mais corrupto da história – como assim definiu o ex-ministro do mesmo Lula, Mangabeira Unger.

Agora indago, adoráveis ingênuos, Lula é o político que mais contribuiu para os avanços econômicos e sociais do país? Sim, se não o fosse nada existiria nele de relevante. No entanto, este não é o mesmo homem que negou todas as acusações de corrupção impetradas contra seu governo, defendendo o bandido já preso na cadeia? Sim, pois ele se porta como o “deus” do perdão e toma em seus braços, como aliados, afilhados, etc., aqueles cujos nomes mancham o papel logo acima e muitos outros de igual renome.

Então, por fim, quem é Lula? O homem que deu ao país a dimensão dos nossos sonhos, ou, o político que engendrou na população a sensação de que a corrupção é inerente ao progresso e, como tal, todos devem refutá-la? Hoje a sensação de que o Brasil agora tem a importância que deveria ter por todas as suas potencialidades anda na cabeça dos brasileiros, assim como a percepção de que a corrupção é mal arraigado na política nacional e, portanto, desimportante.

Não tento responder quem é o presidente, pois isso ultrapassa todas as minhas aspirações de perscrutador de Lula e induz, inexoravelmente, a um pedantismo medíocre. A essa mesma retidão deveriam aderir os que pregam o brilhantismo de nosso presidente, a fim de não incorrerem na interpretação ingênua do homem político.

2 comentários:

Alessandro Dantas disse...

É inegavel que o poder da imagem é a grande sacada da política. Infelizmente, a “imagem”, num mundo tão capitalista e globalizado, torna-se alvo fácil de manipulação, distorcendo-se segundo a necessidade da terceira pessoa do plural. Lula, graças aos seus “auxilios sociais” e sua personalidade “diplomática”, está com uma ótima imagem pública (quase um astro), mas isso não significa que ele foi competente.
Deixando de lado a imagem pública e a informação enfiada guela abaixo por nossos televisores, o governo anterior, de FHC, parece ter sido mais eficaz que o de hoje, ao ponto de deixar para seu sucessor e atual presidente um Brasil estabilizado. A bagunça econômica (e principal argumento de defesa petista) no governo tucano foi apenas durante a obra, depois de implantado, o plano real funcionou muito bem. Pena que a obra terminou apenas quando FHC já estava fora do Palácio do Planalto.
A grande maioria das medidas realmente úteis para o país não são de curto prazo, geralmente levam mais de quatro anos para dar frutos. Mas a imagem do candidato precisa de resultados rápidos! Logo começa a barbeiragem: algo rápido que, indiferente do futuro, funcionará bem nos próximos quatro anos (bolsa família?).
Vai ver é por isso que a China é a econômia de mais rápida expansão. Pelo menos um lado bom no regime de partido único!

Anderson Oliveira disse...

Você disse bem, Alessandro. O grande mal do FHC - que na verdade foi um bem ao país - foram as medidas a longo prazo que ele tomou. O Brasil esqueceu ou faz questão de esquecer isso.
O apelo publicitário do atual governo exerce enorme influência, mas é mais montagem que realidade. Como afirmei, criou-se a sensação de que estamos no lugar certo e na hora certa, e tudo isso graças a...Lula.
Diante disso, toda e qualquer reação que denote a fantasia em que estamos metidos é vista como uma ofensa. Ouça o comentário do Jabor de hoje (30/11), na CBN. Ele fala do grande pecado que é atualmente criticar Lula e seu governo.