O dia é calmo, nublado, mas frio. Eu, um moribundo consumido pelas mais radicais das doenças; a impotência. As velhas perspectivas entontecem. Oscilam entre o raso demais e a extrema altitude. Nada é sólido. Qualquer caminho é minado, incerto, vazio. A força que resta serve para falar a dor, descreve-la. Não há perceptível resistência
Ocorre-me escapar, mas não consigo. Difícil expressar, mas a dor me atrai. Ela me remete a uma realidade dilacerante, mas menos falsa. Não me aproximo de ninguém, não quero ouvir mais nada. O outro contaminaria o sangue puro que jorra ao qual quero afogar.
Os olhos se fecham como um recurso de recusa. O sono torna-se um meio para a expulsa de pensamentos destrutivos. Tem o propósito de despertar para a praticidade do cotidiano. Não o quero. Ainda alimento a esperança da solidão para a sobrevivência. Eis um traço de perspectiva, hoje.
Um comentário:
Seu texto me fez relembrar alguma aula que tivemos...
Encenações, aparências, era algo assim. As relações sociais, por vezes, aparentam ou são falsidades; são encenações. Tudo o que vemos, ouvimos e falamos é aparência, nada é real e a falta dessa verdade assustadora é ainda mais assombrosa.
Por isso, esse anseio por solidão, o desejo de não fazer parte do mundo de encenações,aparências. Devo estar louco, mas, se estou, você também está, Ivan.
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