segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Do ministério à presidência – duas histórias






Um era ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco. Outra, hoje, é ministra da Casa Civil do governo Lula. O primeiro, quando assumiu o mais difícil dos ministérios, em 1993, tinha um grande desafio pela frente: acabar com a inflação. Três outros ministros já haviam sido demitidos por Itamar por não apresentarem resultados contra o grande mal que afligia os brasileiros.

A segunda assumiu em 2006 a mais importante pasta do atual governo, a Casa-Civil, substituindo o companheiro José Dirceu, denunciado por corrupção. Os desafios eram reorganizar um ministério desestabilizado pela saída de seu chefe e tornar-se o principal nome à sucessão do presidente Lula.

O primeiro, fundador do PSDB e ex-senador, Fernando Henrique Cardoso, aos poucos, se consolidou como o mais eminente homem para substituir Itamar Franco. Com um projeto econômico simples, montado com diversos amigos economistas, o sociólogo conseguiu diminuir uma inflação acumulada no ano de mais de 2700% para apenas 15%. O notável é que essa queda aconteceu em plenas eleições de 1994, e garantiu a vitória de FHC sobre Lula, hoje chefe da segunda, Dilma Rousseff.

Assim como Itamar Franco, que lançou seu mais importante ministro às eleições de 1994, Lula deseja nomear Dilma, considerada o segundo nome do governo do PT, candidata à presidência da República pelo partido em 2010.

Outra importante semelhança entre Dilma e FHC é sua posição nas pesquisas. Fernando Henrique teve de enfrentar as pesquisas que apontavam, em 1994, uma vitória esmagadora de Lula nas eleições. A ministra de Lula, hoje, aparece bem atrás do também ex-ministro, José Serra.

Similaridades a parte, o que se pode contabilizar são as contribuições dos dois ministros à atual situação política e econômica do Brasil. Fernando Henrique usou como mote de campanha sua contribuição para tirar milhões de brasileiros da pobreza ao fazer cair a inflação, ainda como ministro.

Dilma Rousseff, diferente de Palocci, não contribuiu para os avanços econômicos do governo Lula. Como plataforma de campanha, a ministra usa de importantes programas sociais, como o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, que é alvo de inúmeros bloqueios por parte do Tribunal de Contas, e o recém-criado Minha Casa, Minha Vida.

Todavia, diferentemente de Fernando Henrique, que tinha apenas uma obra para apresentar aos eleitores, Dilma, além dos programas sociais que ainda engatinham, tem a ligação com o que talvez seja o mais popular dos presidentes brasileiros. Necessita, para isso, que a imagem do presidente Lula seja transmitida a ela.

Apesar das semelhanças entre Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff, esta herdou de seu chefe o discurso de oposição a qualquer preço. A ministra do PT não para de explanar toda sua admirável capacidade administrativa em detrimento da incapacidade dos homens de seu governo e do anterior de fazer a “máquina andar”. Dilma afirma que, antes de Lula, existiam as trevas, e que ele a ensinou o caminho para o progresso.

Do ministério à presidência, como se vê, é um caminho fácil. Basta que se trabalhe com seriedade. O possível candidato tucano, José Serra, também fez muito enquanto ministro de Fernando Henrique.
Que se contabilize, portanto, o quanto os dois possíveis candidatos – e o próprio FHC - trabalharam até hoje. Fugindo à estratégia enganosa de se comparar o presente ao passado.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O cinema brasileiro, de Surfistinha a Lula












O ano de 2010 será inesquecível para a história do cinema nacional. Pela primeira vez, o brasileiro poderá ver na telona duas histórias peculiares à história do Brasil. Logo no começo do ano, no dia 1 de janeiro, estreia nos cinemas de todo o país Lula, o filho do Brasil. Alguns meses depois, é a vez de O doce veneno do escorpião, filme baseado no livro homônimo de Bruna Surfistinha.

As semelhanças entre Lula, o filho do Brasil e O doce veneno do escorpião são poucas, apesar de muitas. Sim, isso é contraditório, mas explico. Ambos os filmes retratam a vida de dois personagens excêntricos do país. Um conta a história de uma jovem de classe média que decide ser prostituta. Outro relata um pouco da vida de um retirante nordestino, pobre, que decide ser político. Espero que vocês entendam que a similaridade aqui fica por conta do gênero biográfico. Mas há outras analogias.

O filme que relata a vida da jovem paulista recebeu, para sua produção, mais de R$ 3 milhões de reais em renúncia fiscal. Isto é, a verba para a execução do longa foi aprovada pelo Ministério da Cultura e origina-se do pagamento de impostos. No entanto, comparado com o custo do filme biográfico de nosso atual presidente, “O doce veneno do escorpião” não saiu tão caro assim. Lula, o filho do Brasil gastou até aqui R$ 12 milhões de reais, ou seja, quatro vezes mais que o filme da Surfistinha. E a semelhança?, você se pergunta.

Uma das muitas polêmicas que envolvem o filme de Lula é a origem da verba para sua produção. De acordo com a Agência Estado, o longa recebeu verba de algumas empreiteiras, dentre outras grandes empresas ligadas ao Governo Federal. O notável é que essas empresas obtiveram ou estão para obter financiamentos de órgãos federais.

A diferença dentro da semelhança, portanto, é que o filme que retrata a história da hoje ex-prostituta recebeu verbas federais formalmente, dentro da lei. Enquanto Lula, o filho do Brasil, obteve dinheiro de modo bem conhecido por nós, brasileiros: através do famoso jeitinho brasileiro de burlar a lei, ignorando a existência da moral.

Em suma, debruçamo-nos até aqui numa analogia entre os dois filmes, seja por seu caráter biográfico: ambos se basearem em filmes sobre as duas personalidades – sim, o longa sobre Lula é baseado também em livro homônimo, de Denise Paraná. Seja também pela semelhança no ano de estreia e na origem infeliz da verba para suas produções.

Aguardemos, agora, para descobrir qual história comoverá mais aos brasileiros que, direta ou indiretamente, estão pagando pelas duas obras. Qual vida entreterá mais o público, a do nordestino pobre que se tornou político ou a da menina de classe média que virou prostituta? Esperemos para ver se as semelhanças param por aqui.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O que é Lua Nova?




Creio que poucas obras refletem tão bem a atualidade como os filmes Crepúsculo e Lua Nova. Do primeiro, não tenho porque me queixar, pois não o assisti. Infelizmente, o mesmo não me aconteceu com o segundo. Fui induzido a cometer o tão insidioso ato de assisti-lo em nome da boa relação humana. Lua Nova agora vai ser o meu pesadelo de 2009. Quando lembrar-me desse ano algum dia no futuro, lembrarei do quanto o mundo já estava corroído por obras superficiais e baratas como o referido filme.

O grande problema, devo salientar, não é especificamente com Crepúsculo, Lua Nova e os outros filmes da série que ainda serão feitos. Obras como essas existem várias por aí, algumas até mesmo com atores, direção, fotografia e roteiro piores. Sei que parece impossível, mas existem sim, basta assistir aos filmes exibidos na TV Globo. O assombroso nessa série de filmes pueris baseados em livros de uma tal Stephanie Meyer é o grau de arrebatamento que ela suscita na sociedade.

Há meses não se fala em outra coisa em universidades, bares, lares e estaleiros. Fala-se de um “casal perfeito”, da beleza dos protagonistas e outras coisas fundamentais às pessoas de pouco juízo. Mas o que é, afinal, Lua Nova?

Quando pensei que tivéssemos deixado para trás esse cultivo infantil a lendas de vampiros e lobisomens, eis que essas antigas histórias ressurgem para ilustrar o amor de Bella e Edward. E, como se não bastasse, insinuando o amor impossível de uma humana por um vampiro, remetendo conscientemente à história de Romeu e Julieta – o livro de Shakespeare aparece no filme para ilustrar essa semelhança.

Lua Nova é, sem dúvida, um filme que retrata bem nosso tempo: a superficialidade e a fantasia redimindo-nos da dura realidade cotidiana. Pão e circo – nunca usei essa expressão, mas aqui ela é válida. Pensando assim, o filme tem lá seu valor.

Para os apaixonados por cinema, no entanto, fica a sensação de fim do mundo. Ninguém sabe ao certo nem a qual gênero pertence Lua Nova. Afinal, é romance sem ser romântico, é suspense sem ser um Hitchcock, é drama sem comover ninguém. Mas atrai o público como dinheiro.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

sentimentos ESCABROSOS II

Como expressar aos homens o sentimento acerca dos sentimentos? Essa, sem dúvida, é uma das grandes questões que me afligem nesses tempos. Torna-se difícil, em detrimento da loucura e da banalidade dos dias atuais, refletir sobre os sintomas de tamanhos absurdos. A arte abstrata, a qual expressa o sentimento do homem ante a contemporaneidade, apresenta-se a mim como um sintoma da própria loucura contemporânea. Assim, como entender a arte abstrata? O que deveria ser uma crítica à própria abstração dos homens é, ela mesma, uma abstração. O que deveria ser uma fuga torna-se aceitação. As feiúras nas paredes da cidade ganham telas, páginas, sons, fazendo com que a arte seja o símbolo da loucura cotidiana.

O labirinto da contemporaneidade é dotado apenas de entrada, ficando os homens a procura de uma saída, quando a mesma é a própria porta pela qual entraram. A arte abstrata é aceitação, não critica, tampouco censura. Em final de 2008, uma jovem entrou num andar desocupado do prédio da Bienal de São Paulo e, diante do vazio, expressou seus sentimentos da maneira mais apropriada a um jovem: pichando. As salas, que poderiam muito bem representar o vazio interior dos homens, foram invadidas pela abstração. O caso ganhou contornos escabrosos, tornando a história da pichação uma obra de arte: a garota fora presa, sendo solta tempos depois, após diversos protestos de artistas nacionais. A arte contemporânea revela o bizarro e é condescendente com a loucura e a banalidade de nossos tempos.

Sendo eu mesmo parte integrante dessa bucólica paisagem de assombros, expresso-me com feiúra. Pouco transmito dos sentimentos que me acometem ante as manifestações artísticas de agora. Entro, cotidianamente, nos labirintos de Jorge Luís Borges. Perco-me nos infindáveis pensamentos acerca do vazio humano e das variadas buscas por seu preenchimento fugaz. Assim, uma obra de arte que traga o sentimento em sua forma concreta, a qual assimile sentimento e entendimento, torna-se digna de apreciação.

“Big Man”, de Ron Mueck, revela fielmente a angústia do homem solitário. O parto, a velhice, o sexo, são retratados por esse artista, grande conhecedor das expressões humanas. A feiúra transmitida é palpável. Com concretude, o homem nos remonta à dor humana. Digo que pra mim isso é arte, não deturpação. Mesmo que recorramos à feiúra, que esta expresse a face da dor e do vazio, e não de uma singela parede com rabiscos.



"Big Man"

* As obras são do escultor australiano Ron Mueck.


quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A adoração dos ingênuos

Algo notório vem ocorrendo no Brasil nos últimos tempos: a veneração exaustiva e quase unânime do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Intelectuais, artistas, políticos de oposição, etc., agora caem candidamente nos discursos e nas ações populistas de nosso presidente – ou “Nosso Guia”, como o chama carinhosamente o jornalista Elio Gaspari. O bordão “nunca antes na história deste país”, que simboliza a demagogia discursiva de Lula, não atinge mais apenas os cidadãos comuns, mas a todos. O anseio da vez agora é tentar definir a seguinte questão: quem é Lula? Eugênio Bucci já tentou, num artigo um tanto quanto limitado e que perpassa pelas ações negativas do presidente com uma superficialidade que alegrou soberbamente os assessores de imprensa do Planalto.

Devemos salientar que sempre foram assombrosas as opiniões acerca dos predicados de nosso presidente, as quais quase sempre versavam sobre a origem humilde do sindicalista, de seus discursos em nome da ética, que denegriam sem nenhum pesar a imagem de políticos malfazejos como Sarney, Collor, Barbalho, Calheiros e companhia não menos pérfida. O Lula para eles era o homem do povo e o qual, estando no poder, daria um novo rosto à política brasileira, conferindo finalmente a essa terra esquecida a alcunha de “Brasil, o país do presente”. Doces delírios? Não, seria tolo não reconhecer os avanços obtidos até aqui. No entanto, isso não confere ao presidente o título de salvador da pátria.

Eu poderia muito bem elucidar que, como maior mandatário de nosso país, eleito pelo povo, ele não fez mais que sua obrigação. Mas certamente receberia como resposta desses tantos correligionários do presidente uma débil e óbvia pergunta: e por que o FHC não fez? Elementar, meus caros, não se pode comparar um governo iniciado em momentos trágicos com um onde o começo se deu em momentos auspiciosos para todo o planeta, com países como China, Índia e Coréia do Sul em franco crescimento. E, afinal, o que se espera de um governo sucessor? Que este continue a organizar o que não foi organizado e a amadurecer o que fora iniciado. E ademais, Tolstói é Tolstói e Dostoiévski é Dostoiévski, não competindo a nós denegrir um autor em detrimento do outro. Algo lógico, não? Não, pelo menos para os ingênuos de que trato aqui.

Essa nova condição em que se encontra Lula é fruto do oba-oba atual no âmbito da economia e da política externa brasileira. Mas questiono, será que esses noticiados progressos atentam realmente para uma realidade que pode ser vista e não apenas sentida? A propaganda lulista que, sabemos bem, noticia alegremente o que ainda não foi feito - ou seja, o porvir – não incute em nossos esperançosos cidadãos – tomando os que antes se opunham ao presidente como exemplo - a sensação de que, por todas suas ações, “Lula é o cara”? Sim, a máquina hitlerista funcionava desse modo – mas não faço aqui uma analogia entre dois homens, como ele o fez há pouco com o PSDB – e o que vimos foi uma aderência cega aos discursos do tresloucado alemão. Em suma, o marketing do governo Lula insere em toda a população os sentimentos de estarem no lugar certo e na hora correta. E mais, que talvez estejamos chegando ao que os marxistas veem como “o fim da história”.

Todavia, é mais preciso chegar-se à imagem de Lula pelo próprio marxismo, basta usarmos para isso de sua dialética – método que Marx adaptou de Hegel - para encontrarmos o que há de negação no presidente. Afinal, em detrimento da ética, as alianças de Lula com os mesmos homens que ele criticava valem realmente a pena? Podemos refutar as denúncias – estas comprovadas – de caixa dois em sua campanha? A argumentação – que não vale no caso do Senador Azeredo, alvo de denúncia análoga – de que ele desconhecia o esquema do “mensalão”, mesmo quando os responsáveis pela tramoia eram seus homens de confiança? Eu sei, tudo isso já foi pisado das mais variadas formas, mas ainda sim creio que esses são fatos eternos e que serão relembrados por anos a fio como constituintes do governo mais corrupto da história – como assim definiu o ex-ministro do mesmo Lula, Mangabeira Unger.

Agora indago, adoráveis ingênuos, Lula é o político que mais contribuiu para os avanços econômicos e sociais do país? Sim, se não o fosse nada existiria nele de relevante. No entanto, este não é o mesmo homem que negou todas as acusações de corrupção impetradas contra seu governo, defendendo o bandido já preso na cadeia? Sim, pois ele se porta como o “deus” do perdão e toma em seus braços, como aliados, afilhados, etc., aqueles cujos nomes mancham o papel logo acima e muitos outros de igual renome.

Então, por fim, quem é Lula? O homem que deu ao país a dimensão dos nossos sonhos, ou, o político que engendrou na população a sensação de que a corrupção é inerente ao progresso e, como tal, todos devem refutá-la? Hoje a sensação de que o Brasil agora tem a importância que deveria ter por todas as suas potencialidades anda na cabeça dos brasileiros, assim como a percepção de que a corrupção é mal arraigado na política nacional e, portanto, desimportante.

Não tento responder quem é o presidente, pois isso ultrapassa todas as minhas aspirações de perscrutador de Lula e induz, inexoravelmente, a um pedantismo medíocre. A essa mesma retidão deveriam aderir os que pregam o brilhantismo de nosso presidente, a fim de não incorrerem na interpretação ingênua do homem político.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Babel de culturas


A metáfora bíblica decerto fora a maior das profecias – ou, simplesmente, uma constatação precoce das diferenças entre os homens. A humanidade está dividida em valores culturais e idiomas distintos, os quais talvez nunca sejam compreendidos uns pelos outros. Impossibilitados do diálogo, cegos por construções culturais diversas e etnocentristas, envoltos numa Babel de culturas, nunca será possível às nações um acordo que os leve à paz e o bom convívio.


Isso é o que pudemos perceber dias atrás, durante a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), nas falas de líderes como Mahmoud Armadinejad, do Irã, Muammar Gaddaffi, ditador da Líbia, Hugo Chávez, da Venezuela, e companhia não menos assombrosa.


Há um misto de discursos vazios e envoltos em retórica, como os de Obama e Lula, e explanações revoltosas, como as do líder líbio. Sozinho no discurso de unidade entre as nações, o secretário-geral da ONU, Ban Kimoon, parece não compreender os desafios que tem de enfrentar. Kimoon pede a todos que tolerem suas diferenças em busca de solução para as mudanças climáticas, a pobreza e a gripe suína.


Mas eles não se entendem. Falam línguas diferentes, creem em deuses e sistemas díspares. Alguns veem na violência e na guerra seu único discurso. Deus talvez tenha errado em, além de dividir a humanidade em línguas, tê-la dividido também em culturas tão excêntricas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A ineficácia do discurso único



O que Marina Silva e Cristovam Buarque têm em comum? Em poucos segundos podemos enumerar uma série de semelhanças entre os dois. Ambos são ex-petistas, foram chefes de importantes ministérios do governo Lula, podem ser candidatos à Presidência da República em 2010 – apesar de Buarque esboçar pouca vontade desta vez – e, o principal, os senadores fazem uso de discursos únicos: ela, a defesa do meio ambiente; ele, da qualidade na educação.
Grande novidade para as eleições de 2010, Marina Silva ainda engatinha para ser candidata em 2010. Em entrevistas recentes, a senadora não hesitou em responder questões complexas recorrendo ao discurso da necessidade de “desenvolvimento sustentável”.

No entanto, a senadora promete ser a melhor saída aos insatisfeitos com a dupla Serra-Roussef. Boa porque a nova integrante do PV mantém coerência, bom-senso e está longe do radicalismo de Heloísa Helena. Apesar de ainda correr o risco de ser rotulada como candidata de discurso segmentado, como Buarque o foi com a educação, levantando apenas a bandeira de defesa do meio ambiente.

O discurso único é ineficaz numa campanha ao principal cargo político brasileiro. Com essas propostas, Marina e Cristovam podem ser importantes ministros, cada um ocupando a pasta que melhor domina, mas não podem ser bons candidatos à presidência. Nas eleições de 2010, Serra, Dilma e Ciro tem bem mais chances de chegarem ao poder, não por estarem em partidos maiores e terem melhor visibilidade política, mas por terem uma visão política mais completa e rebuscada.

Já é o momento de Marina cooptar aliados que deem a sua campanha um discurso maduro, que demonstre aos eleitores que a senadora está preparada para ocupar a Presidência da República. Um bom aliado seria o próprio Cristovam Buarque – caso o senador não se candidate - e seu partido, o PDT. Uma chapa composta pelos ex-ministros petistas, além de sofisticar a candidatura, seria uma alternativa duplamente atraente ao eleitorado.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Muita energia no lugar errado

Cidadãos indignados pedem saída de Edinho, mas o que fez Edinho?


Na última semana, um comentário do goleiro Rogério Ceni trouxe novamente à tona um velho e conhecido discurso: o de que o futebol aliena, e o povo brasileiro é símbolo disso. Após a invasão do vestiário da Portuguesa devido a uma derrota, o são-paulino disparou: “Não sei por que as pessoas não vão até o Senado protestar da mesma maneira contra a política brasileira”.

Acontecimentos como a invasão do vestiário desse time paulista são certeiros na história futebolística brasileira. Sempre depois de duas ou três derrotas de seu time, fanáticos enchem-se de angústia, entram em desespero e saem às ruas brigando com torcedores adversários. Isso quando não destroem o estádio e apedrejam o ônibus de seu próprio clube. Nessas horas, notamos que o brasileiro não se esqueceu de como protestar, eles apenas protestam pelos motivos errados, em lugares dispensáveis.

Em meio ao caos existente em nossa política, que sofre com constantes denúncias de corrupção e descaso com a “coisa pública”, revoltar-se ante a derrota de um clube da segunda divisão do Campeonato Brasileiro nos soa amedrontador e, porque não, vergonhoso. Rogério Ceni é apenas um dos poucos entristecidos, ou revoltados, com a inversão de valores presente em nossa sociedade.

Tivéssemos a mesma energia com que nos enfurecemos com nosso clube para enfrentar nossos verdadeiros representantes, que são os políticos, quando estes chutam a bola pra fora ou fazem gol contra, certamente os times da Câmara, do Senado e do Planalto jogariam melhor.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Jefferson Peres, a política e a eterna indignação


Creio que seja difícil encontrar um ou dois políticos dignos de elogio. Ocasionalmente, quando lembramos de algum que mereça louvores, quase sempre este está morto. Sorte a dele, podemos arriscar. Um destes homens foi Jefferson Peres, que nos últimos anos de vida no Senado Federal indignou-se não mais apenas com seus colegas corruptos, mas com o povo, o qual se aquieta e é conivente com as vilanias da classe política.

Líder do PDT no Senado, Peres afirma que o problema da corrupção não é apenas dos políticos, mas dos que o elegem e continuam a elegê-los mesmo após toda a podridão engendrada pelos que deveriam representá-los.

O discurso acima denota um arauto da lucidez já entristecido com o país dos desavergonhados.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre o diploma




Mantive-me calado até aqui em relação à dicotomia atual entre a obrigatoriedade ou não do diploma de jornalismo. Como uma criança que tem de se decidir entre o pai e a mãe, fui jogado de um lado ao outro por alguns jornalistas e intelectuais que considero importantes. Não obstante, ainda não pude e nem poderei optar por um dos lados, pois tal discussão constitui-se de princípios que se chocam e ambas as partes tem razão.

Como estudante de jornalismo, obviamente, já deveria há muito ter entrado na briga pela obrigatoriedade do canudo, mas não pude tomar os argumentos opostos como refutáveis ou indignos de serem levados em conta. Trata-se, em suma, de uma questão em que os dois lados defendem elementos básicos para a constituição do que chamamos jornalismo. Primeiro, que tal profissão não necessitou de um curso de formação para nascer. Segundo que, como podemos ver nos dias atuais, é plausível que necessite dela para sobreviver. Simplesmente porque o jornalista é quem narra a história humana, além de ser o jornalismo a principal forma de questionar as mazelas sociais e as injustiças, tornando-se uma instituição tão importante quanto os três poderes, uma vez que deveria trazer à luz as disparidades de nosso mundo.

No entanto, tal exercício não requer formação específica para existir, basta que nasçam homens preocupados com os dilemas sociais e que tenham olhos para ver o que está explícito ou implícito nas ações humanas. Agora questiono, é necessária uma faculdade para isso? Não, não é. Todavia, quatro anos sentado diante de mestres e doutores contribui e muito para a maturação dessa criticidade inerente à prática jornalística. Não diria que simplesmente contribui, mas que é evidentemente obrigatório o convívio da universidade. O dialogar e o refletir nunca terão lugar numa redação de jornal, como julgam grande parte dos jornalistas, num ato de absoluta ignorância e nostalgia, pois se trata de local dedicado à prática, não à reflexão. Um jovem que queira aprender jornalismo e não deseje entrar para a faculdade, numa redação irá aprender os macetes do ofício, compreenderá a lógica da pauta, dos lides, das reportagens, etc., mas não saberá qual seu papel na formação de seus leitores.

A prática jornalística é, sobretudo, um exercício de socialização. Na faculdade não aprendemos apenas a produzir o texto e veiculá-lo, pois a ação começa muito antes. Tem início em nossa própria visão de mundo. É na universidade que temos a formação necessária para observarmos com maturidade uma sociedade carente de acertos. Somos submetidos a questões sociológicas, antropológicas e filosóficas, e o exercício jornalístico advém da assimilação destes saberes. Fazer jornalismo não é simplesmente ver e escrever: é interpretar e formar. O jornalista, mais que qualquer outro profissional, é responsável pela construção da realidade de seus leitores. Quem o lê se adapta aos acontecimentos transcritos, assimila o conhecimento. O jornalismo, independente de diploma, é responsável por toda a evolução sociocultural do homem.

Muito há que se discutir ainda, pois como afirmei, há princípios que se opõem nessa questão. Qualquer um pode estar provido de preceitos inerentes ao jornalismo, mas somente na faculdade tais excentricidades poderão ser fundamentadas. Em contrapartida, não é a sala de aula que irá formar o jornalista, pois este já vem dotado das características que descrevi anteriormente. Por tudo isso, abstenho-me de tomar um dos lados, negando a existência dos argumentos opostos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

As injustiças da Justiça


O caso Dantas já está dando nos nervos, sei lá, cansou. E cansar é talvez a principal razão pela qual a sociedade não se manifesta mais em defesa do erário público, não temos tempo para isto. No entanto sempre acontece algo que traz a tona o assunto. Desta vez, o TRF processou 134 juízes que apoiaram De Sanctis em manifesto a favor do juiz paulista. É uma crise institucional sem precedentes, segundo o jornal “O Estado de São Paulo”.

O fato é que em 8 julho de 2008 a PF deflagrou a operação Satiagraha e prendeu o banqueiro Daniel Dantas, Celso Pitta, Naji Nahas e outros 14 acusados de crimes contra o sistema financeiro. Todos nos sentimos um tanto realizados, afinal parece que a justiça finalmente estava prendendo os “colarinhos brancos”. O constante clichê “só pobre e preso no Brasil” parecia desfeito. Mas não, a corte mais alta de justiça, mais exatamente o presidente do STF, Gilmar Mendes, manda soltar Dantas em 10 de julho. De Sanctis manda prender novamente e, da mesma forma, ele é solto por ordem de Gilmar Mendes.

Sinceramente não importa exatamente as insubsistências do processo, ou suas falhas. O que importa realmente é que enquanto os juízes, senhores absolutos do direito, brigam entre si nessa disputa de egos, os criminosos, cada vez mais, sentem a impunidade e ficam livres para atacar e fazerem suas estripulias. Pior que isso é que quando um juiz, espero não estar errado em meu julgamento, resolve finalmente trabalhar em favor da ordem pública, seu superior simplesmente não dá respaldo algum e age na desconstrução de um processo de punição aos visíveis culpados.

Talvez eu não esteja errado em meu julgamento, afinal 134 juízes não apoiariam De Sanctis sem pelo menos uma pequena análise da atuação do companheiro. Claro que, talvez a razão real deste apoio seja a manutenção de seus poderes supremos em suas regiões, ameaçados com a interferência do alto escalão em suas atuações. Mas independente disto o que realmente choca, nas duas possibilidades, é a latente preocupação das partes em manter seus egos em alta, seus poderes intactos. Isso não nos deixa muita esperança quando percebemos o judiciário ser retratado na mídia mais pelas disputas e desvios de ética em detrimento do seu principal objetivo que é a justiça a serviço de todos os cidadãos de bem.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O FIM DO COMUNISMO



Apesar do desejo da literalidade do título acima, não trato aqui do fim real do comunismo, tal como a queda de um regime. O fim do comunismo – sonho notório – dá-se, impreterivelmente, com a derrubada constante das ideologias passadas. O andar cotidiano do capitalismo, os avanços comunicacionais e a industrialização de tudo o que existe tende, incondicionalmente, a corroborar com o fim das bandeiras vermelhas. Não que seja o fim de Karl Marx e seguidores, pois isso não contribuiria com a história e com o bom senso das ações que a humanidade deve seguir, mas sim que é o esquecimento de sistemas sociais utópicos. É o fim dos sonhos inalcançáveis que não levam em conta os anseios humanos, e aqui uso de Nietzsche, para quem a moral imposta pela sociedade – que tende a ser ainda mais forte em um sistema como o comunismo – é uma moral para os fracos, que coíbe o homem de agir de acordo com seus desejos.

Mas o que nos leva a refletir sobre o ocaso e fim do sistema socialista é a abertura de velhos e fortes casulos, de países comunistas que se fecharam para o mundo do consumo. Uma década antes do fim do século XX pudemos ver o fim do que seria o maior e mais forte reduto comunista, a União Soviética. Hoje, vimos uma China cada vez mais aberta aos frutos do capitalismo. E não deixemos de ressaltar que, uma vez aberta ao mundo da comunicação sem fronteiras, nunca mais a censura poderá ser imposta como antes. Assim, mesmo que ainda haja muito de comunismo – num termo inválido, pois os chineses nunca viram o comunismo de Karl Marx – muito já foi feito para que o país retrocedesse a esse sistema.

Não obstante o quase fim do comunismo chinês, as quase duas décadas do fim da União Soviética, o comunismo ainda vive em pequenas e desimportantes ilhas, como é o caso da Coréia do Norte e de Cuba. No entanto, apesar daquele país ainda estar mantido num invólucro de comunismo fajuto e tirano, este tem grandes chances de abrir-se ao mundo. Cuba certamente, com o quase fim de Fidel e seu irmão, levará vantagem nessa abertura devido à sua boa localização, e suas riquezas culturais e naturais. Ocaso, quase fim do comunismo na ilha de Fidel.

Para acalentar ainda mais as contradições desse mundo ingênuo envolto em retóricas, o comunismo, nos dias atuais, surge como produto artístico e cultural. Em suma, o comunismo atrai turistas, ou seja, hoje é um produto comercial. Assim, podemos gozar de uma visitinha ao país caribenho, marcado pelo atraso que anda junto ao sistema socialista, ao país oriental com sua histórica e cruel revolução cultural ou até mesmo ao país de Lênin, Trotsky e Stálin. O comunismo, há anos, foi engolido pela máquina capitalista, que assente aos desejos humanos.

Falta pouco para vermos o fim verdadeiro do sistema marxista, restam apenas anomalias criadas através da triste patologia humana: a ideologia. Veremos o fim de idealismos e idealistas incorrigíveis, sonhos e sonhadores lunáticos. Mas veremos, também, o caminhar ensandecido da humanidade, fugindo do ridículo e recaindo na banalidade; eliminando a fantasia e entrando de vez numa realidade mórbida e infeliz.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Mensagens eletrônicas - aflições cibernéticas

Somos diariamente acossados por um turbilhão de mensagens cibernéticas de amor, de nostalgia, de paz, etc. Ao som de antigas canções, populares ou eruditas, as mensagens quase sempre carregam um tom sentimentalista. Somos incitados a amar nossos pais, a dar mais tempo a nossos filhos, a não sermos tão metódicos, a enxergar os detalhes do cotidiano, a rezar e a sermos solidários. Há, ainda, as mensagens bem-humoradas, as quais nos tiram da alienação a que somos imersos no trabalho. As correntes de mensagens eletrônicas, de qualquer gênero, acabam fazendo parte do cotidiano de quem navega na internet, seja a trabalho ou lazer. Recebemos e-mails de amigos que, por sua vez, recebem de outros amigos, que recebem de outros e outros, quase que infinitamente. Enfim, as mensagens religiosas, educativas, humorísticas e de apelo social chegam a internautas de várias partes do país e do mundo, criando um vasto ambiente comunicacional.

As informações transmitidas, no entanto, são fadadas ao senso-comum, sem nenhum cunho ou embasamento científico. Assim, tanto temos acesso aos pensamentos de Platão e de Nietzsche – que, obviamente, ficam descontextualizados -, quanto aos pedantismos da auto-ajuda de Lair Ribeiro e Augusto Cury. Trata-se de mensagens sem autores, ou com atribuições infieis aos mesmos. Lemos textos “assinados” por Arnaldo Jabor (o autor preferido desses internautas), por filósofos e religiosos. São orações ritmadas por Mozart, Vivaldi ou Strauss, ou são frases feitas, lugares-comuns, ao som de U2 ou Bon Jovi. Apelos nostálgicos evocando o belo passado ou então os momentos perdidos em decorrência da correria do dia-a-dia. Mas não são apenas mensagens e canções, as imagens também contribuem ainda mais na transmissão dos sentimentos.

Vêmos crianças pegando comida do chão, rostos que nos transmitem a dor da fome, da miséria. Somos invadidos por um desespero avassalador ante as histórias de massacres, tantas iniquidades cometidas pelos homens. As imagens agem com maior crueldade por retratarem quase que fielmente o momento de dor. Não bastando som e mensagem, a força da foto impede a ação da indiferença. Não temos para onde fugir, somos acometidos assim pelo sentimento desejado pelo emissor. Náusea e lágrima, sorriso ou reflexão.

Pouco podemos mensurar sobre as consequências de mensagens assim no cotidiano dos que tem acesso à internet. Tanto a transmissão quanto a recepção são momentos individuais e íntimos. Isolados, lemos, vemos e ouvimos conteúdos que nos absorvem, levando-nos a um estado jamais atingido com a televisão e o rádio – meios cujas informações sobrepõem-se às outras, impedindo o momento de reflexão – e os meios impressos, devido à pouca profundidade e a não presença do som. As correntes de e-mail, por fim, como retribuição ao sentimento transmitido, cobram a propagação de sua existência. Assim, também devemos enviar a nossos amigos, que também enviarão aos seus contatos, até que o sentimento ultrapasse as fronteiras dos países. Enfim, o amor, o ódio, o pensamento e a religiosidade atingem milhões, necessitando apenas de Power Point e de um endereço de e-mail.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Jornalismo e outras reflexões


Em meus poucos mas relevantes anos como estudante de jornalismo muitas coisas perpassaram por minha mente sem que eu ao menos desejasse. Em verdade, queria apenas viver tranquilamente, sem pensar em sandices que nada cabem a mim. O fato é que, dentre as elucubrações por vezes doentias de meus professores, um ou outro aluno vomitava palavras absurdas que levavam-me, quase sempre, a um desespero suicida. Por vezes, devido ao alto grau de ignorância, minha vontade de suicídio transformava-se em ânsia por extermínio em massa. Sei o quanto parecem doentias essas manifestações, mas não sofro por isso: para que não se caia em depressão, loucos devem aceitar suas patologias.

Tudo que sei é que, da mudança de universidade por que passei, muita coisa pude aprender. As percepções acerca das coisas mundanas entre meus colegas de uma e de outra faculdade eram quase sempre distintas. Creio que, salvo engano por ter convivido muito menos intensamente com uma das turmas, muitos colegas assemelhavam, ou o eram, crianças recém-saídas do colegial. A maconha, que estava longe de ser um tabu em uma das universidades, era elemento desconhecido para a outra. Não pretendo, por assim dizer, que o simples fato de fumar maconha engrandece os instintos perceptivos, mas, ao se fazer tal analogia, ela não parece tão descabida. O triste é que alguns apesar de, primeiramente, demonstrarem certa ignorância acerca das distorções do mundo, não sucumbiam às experimentações e destoavam de tantos outros que eram ignorantes por não ousarem experimentar.

A experimentação, em si, é capaz de grandes feitos. Não apoio o uso de maconha ou drogas de qualquer espécie, digo sobre as experiências acerca de tudo que envolve os desejos e as curiosidades dos homens. Posso dizer que já experimentei de quase tudo, não tenho receio do novo, do desconhecido. Jornalistas devem, para se falar com sapiência sobre o objeto tratado, vivenciar o mesmo.

Dito sobre as experimentações, outro ponto relevante e que deveria ser intrínseco ao desejo besta de ser jornalista é a insatisfação. Nada mais óbvio: jornalismo é uma máquina de mudança que, nas mãos de um banana e, claro, de um capitalista, pode ganhar contornos assombrosos. Nestes anos - poucos para uma vida inteira, é verdade - todos os meus amigos criativos e dotados de uma grandiosa bagagem cultural são verdadeiros insatisfeitos, eternos angustiados; depressivos com os desígnios da raça humana. A simples monotonia do passar dos dias é fator acabrunhante, terrível. O tédio invadi-lhes a cabeça, os braços, as pernas, toma conta de todo seu ser.

Diante de tais sensações, a insatisfação torna-se generalizada. A política, a cultura, enfim, tudo que move a sociedade carece de ajustes, para um andar mais belo e correto. Por assim pensar, vemos que cobrir desfiles de modas não é nada relevante. Arrogância a minha, não? No entanto, isso não serve para mim e nem a esses chatos amigos.

Pensar o jornalismo é refletir sobre as mesmices cotidianas: o transmitir de notícias sem valor social algum. As concepções de importância de tantos colegas de curso, do primeiro ao quarto ano, são vagas. É o noticiar de uma morte no subúrbio, por motivos pessoais e até mesmo infantis; é o interessar-se pela rotina de um vendedor de frutas, pela vida intima de uma personalidade, etc. É uma retransmissão dos afazeres diários, dos acontecimentos comuns a qualquer cidade. No entanto, os problemas sociais que carecem de lugar na mídia são por ela rejeitados. Os jornalistas não sabem ou não querem suscitar discussões nas sociedades. Falta, como já expus, insatisfação.

Nesses anos como estudante de jornalismo, minha turma e eu muito fomos instigados a lermos jornais, assistirmos noticiários, etc. A busca por informação, segundo nossos professores, deveria fazer parte de nossa vida. Porém, as boçalidades noticiadas nunca me chamaram atenção. As discussões relevantes que deveriam cobrir ao menos 50% de um jornal não ganham nem 10%.

Na faculdade, no mercado de trabalho, em todos os lugares falta insatisfação. Muito se fala de objetividade, de imparcialidade, etc., mas estas são discussões que fazem, a meu ver, parte de um terceiro ou quarto plano sobre como e o que o jornalismo deve ser. Somos, enquanto comunicadores, construtores da história, desmistificadores. Questões relevantes devem ultrapassar as barreiras da academia e cabe a nós que isso seja feito.

Há numa sociedade inúmeros problemas que devem ser discutidos. As drogas, o racismo, a miséria, a eutanásia, o aborto, as células-tronco, em suma, todas as desigualdades sociais e tabus devem ser quebrados para que se chegue a uma sociedade equilibrada. Assim, não basta ter curiosidade e saber escrever. É preciso interpretar, ver a sociedade com olhos inquietos. É a escolha da pauta que diferencia o bom do mau jornalista. E, certamente, para os que não veem disparidades, nem tampouco se abrem às experimentações, o mau jornalismo é destino garantido.