
Durante anos, visitei escritores dedicados à vida dos homens e seus desígnios mais puros ou mais mundanos. Dostoievski deu-me prazeres com seus homens sofredores, desprovidos de alegrias pagãs, Flaubert remetia-me a tantos não sabedores da vida, meros insatisfeitos, infelizes humanos. Outros, como Goethe, haviam me levado ao amor ou à busca obstinada por sabedoria, a qual alucinadamente levou Fausto a vender sua alma a Mefistófeles. Entretanto, nenhum deles retratou como Marguerite os lamentos, as alegrias distintas e não conhecidas, a eterna e terna luta do homem em busca de tudo o que há de sagrado à vida humana. Mais de 1800 anos nos separam de um dos maiores Imperadores Romanos, todavia, através da obra, sentimo-nos ali, amigos, íntimos do Sumo Pontífice romano.
A ambição, as conquistas, os devaneios, tantos elementos permeiam a vida do homem, e todos eles preenchem as memórias de Adriano. Misto de pesquisas, com a obstinação de que tudo seja um relato pessoal, Marguerite faz com que o próprio imperador nos conte sua vida. Entramos na vida de Adriano através de si mesmo. É ele quem vai nos contar suas dores, seus anseios, seus medos e seus amores. O casamento infeliz, seus amantes, o amor tão sensato e puro por Antínoo, tudo nos é contado. É possível ouvir e ver este homem, em seus amores pela vida, em seu diálogo com a morte. Nada nos é jogado, sem fundamento, desprovido de sentido.
Marguerite Yourcenar, mais que uma escritora, é a criadora de uma obra distinta de tudo o mais já feito. As palavras, as verdades colocadas na boca de um imperador, distante dela em 25 gerações, enchem-nos de um prazer desconhecido em outras obras já lidas. As palavras proferidas por Adriano nos remetem a um mundo passado e ainda quase existente. Podemos voltar ao passado, enxergar Adriano e entender a vida dos homens pelos olhos maravilhosos de uma grande escritora.
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