quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Tratamento de choque


Preocupamos-nos com problemas políticos de ordem universal, problemas econômicos mundiais, entre muitos outros. Mas, esquecemo-nos dos problemas sociais tão próximos de nosso raio de atuação. Não percebemos os fatos tão ao alcance de nossos olhos.
Quer um exemplo? Toma. Convivendo com pessoas das mais diversas classes sociais percebo o desprezo com que tratamos as pessoas de baixa renda e as de pouca ou nenhuma instrução. Nas instituições públicas, teoricamente criadas para atender às necessidades do cidadão comum, é mais fácil perceber este tipo de tratamento.
Não quero iniciar uma discussão em profundidade, não tenho tal pretensão, mas quero questionar a forma como tratamos os nossos semelhantes. O tema não é novidade, mas não posso deixar de me manifestar diante de tamanha desconsideração pelos necessitados. Esquecemo-nos que se alguém procura nossa ajuda é porque ele necessita daquilo. E sem levar em consideração sua diferença de instrução e conhecimento o maltratamos e o atendemos sem nenhum interesse e vontade.
Pior? Fila. As pessoas ali esperando e funcionários agindo como se nenhuma delas existissem. É isso, não enxergamos o diferente. Temos a arrogância de achar que somos superiores a eles. E para aqueles que não consegue enxergar isso, saiba, fazemos isso inconscientemente. Exatamente por isso que quero chamar a nossa atenção à causa.
É hora de pensarmos em como estamos agindo. Passamos na rua por pessoas que nem vemos. Garis, Faxineiros, Serventes, entre muitos outros, são invisíveis aos nossos pomposos e arrogantes olhos. Quando justificamos que não os destratamos é porque cometemos o cúmulo de nem perceber sua existência. E quando fazemos algo a eles achamos que estamos sendo caridosos, como se necessitassem realmente da nossa existência para que possam também existir. Quanta mediocridade. Respiramos o mesmo ar.
Está perplexo? Acha que exagero? Pergunte-se: qual a última vez em que foi em um posto de saúde público? Ou matricular seu filho em uma escola municipal ou estadual? Talvez você nunca tenha ido, por isso não consegue identificar a profundidade e a distância em que, num mesmo mundo, nós estamos.
Remeto-me aos campos de concentração nazista. Pessoas eram tratadas como animais. Pregamos nossa indignação com relação ao que a história nos diz. Talvez você nunca tenha ouvido falar, mas o mesmo fazia os japoneses com os chineses. Queimavam cidades inteiras só para testarem suas bombas e armas de guerra. Devemos o avanço da medicina a esses absurdos.
Mas a hipocrisia está aí, aos nossos olhos. Nosso discurso é de igualdade social, de repúdio ao que judeus e chineses sofreram, mas não somos capazes de perceber que infligimos a nossos semelhantes mesmo tratamento, talvez não físico, mas igualmente aterrador psicologicamente. Fazemos com que sintam as piores criaturas, indignas de viver. Pintamo-las como inferiores e excedentes no espaço em que vivemos.
Faço aqui um apelo. Passe a ver as pessoas com elas são. Iguais. Para você, que é procurado e ganha par servir, afinal ser servidor público é exatamente isso, quem vai a um posto de saúde precisa de remédios, conforto, pronto atendimento, e não de mais uma dose de sua arrogância e desprezo. O pai que procura uma escola é por que sonha com um futuro melhor para seus filhos. Compartilhe, ajude-o a oferecer aquela que pode ser a única herança que ele pode deixar.

3 comentários:

Anderson Oliveira disse...

Falando por si mesmo, meu caro amigo?

Interessante e real sua mensagem, porém os erros citados são instrínsecos ao homem: uma pena.

Anônimo disse...

Realmente esse é um "chaqualão" na sociedade. Infelizmente a arrogancia e o egoísmo do ser humano é tão grande, que mesmo depois tomar conhecimento do que ele faz sem perceber, ele se esquece e nada muda, retoma seus atos que já são rotineiros.

Anderson Oliveira disse...

Carol...

O que é um "chaqualão"?